quarta-feira, 29 de junho de 2022

 

desperto no sonho
e escrevo
o poema solitário
feito no fio da navalha
e no sabor do cianeto...

desço a arriba
e o mar traz-me a maresia
das cores



domingo, 26 de junho de 2022

troco carícias
na aguarela viva
com que pinto cada tela…

com as mãos em labirinto
perfeito
desenho pássaros voando
na noite que fecho no sótão.

ao longe,
e num quase repente
há um beijo
que caminha de mãos dadas
com o olhar …




sexta-feira, 24 de junho de 2022

 

lambo as feridas,
as dores,
as cinzas...

procuro as palavras,
a pele,
o rosto,
as mãos ansiosas
contra o corpo...

a mágoa existe
e navega nos mares do silêncio



terça-feira, 21 de junho de 2022

 

tenho nas mãos os dedos
com que te toco,
na boca os lábios
com que te beijo,
no rosto os olhos
com que te descubro…

sonho
e leio o poema
feito na solidão



domingo, 19 de junho de 2022


Cumprem-se manhãs de horários invisíveis.

Atravesso a cidade para conseguir ver-te. Mas o trânsito impede-me de chegar a tempo.
Então, mais do que borboletas no estômago, quando te penso, um vazio que se abre geométrico na minha alma em desenho disfarçando as letras.



sábado, 18 de junho de 2022



sopro fios de orvalho
na madrugada 
que se arrastam na tristeza.

e
em silêncio
aconchego o corpo,
o olhar vazio
e a memória de
tantos amanheceres.

o vento traz o suspiro
dito nas horas de ausência
e o beijo evitado
quando a fraqueza era horizonte.

quedo-me aqui
e olho o amanhã


sexta-feira, 17 de junho de 2022


e sentada no inabitável de todas as cores, rodeada de verbos que se demoram nos dedos, deixou que uma lágrima secasse, impedindo-a de lhe tocar a perna nua, impedindo-a de lhe salgar a pele. como se fosse altar. tão sua. tão só.



quinta-feira, 16 de junho de 2022

 

em cada mão trago vocábulos
de chegada
e de partida…

do teu olhar sobram
caminhos escolhidos
e dos teus lábios somente
palavras por dizer.

é noite
e eu lanço poemas no silêncio




quarta-feira, 15 de junho de 2022

terça-feira, 14 de junho de 2022



afastas-te
e eu caminho
para dentro de mim mesmo.

sozinho,
sem regresso,
percorro
o meu destino.

sinto-te ainda.
muito.
sonho-te.
toco-te.
um abraço.
um beijo...

olho para ti
e vejo-te distante.



foto de Gosia Janik

domingo, 12 de junho de 2022



acordo dentro da saudade
e percorro o silêncio.

o teu olhar
é o do tempo que parou
e de nada mais...


sábado, 11 de junho de 2022


nas palavras
escritas na madrugada
respondo-te
sim.
 
há o aqui, o agora
e também amanhã



sábado, 4 de junho de 2022

a tarde finda.
as luzes da cidade não brilham
e o inverno cai dentro das casas.
a melancolia cheira a café
e chocolate quente…

com mão trémula
celebro o movimento do vento,
das coisas…

e no coração da noite
acendo o poema
na paisagem da tua pele



quinta-feira, 2 de junho de 2022



roubo poemas à brisa dos dias
e assim ocupo a noite.

são estes poemas que envolvem
o corpo
e afastam a ausência…

mas ensandecem a pele.

foto de Anna Forsterling